ALBERTO HIGINO – FAIXA PRETA 4º DAN
DACHI-WAZA NO KARATÊ-DÔ
(POSTURAS E BASES)
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho foi elaborado para evidenciar a importância das Bases ou Posturas existentes no Karatê-Dô, classificando-as conforme as suas especificidades e grau de importância, para os fins a que foram destinadas.
Diante da necessidade histórica de se adquirir uma postura firme e adequada para situações de luta, resgatamos do passado o emblemático exemplo dos lanceiros medievais e sua postura desenvolvida para contenção da cavalaria montada, para ilustrar a necessidade de uma postura adequada diante de um oponente de compleição física avantajada.
Norteado pelos avanços científicos no ensino do Karatê-Dô contemporâneo, abordamos informações inerentes a cada postura para explicar antigos conhecimentos que outrora eram apenas repassados de forma empírica.
As informações ora explicitadas, advêm de conhecimentos adquiridos em aproximadamente três décadas na prática do Karatê-Dô e concomitantemente a ensinamentos provenientes de Cursos e publicações na área, resultando assim no enriquecimento deste conteúdo descrito.
2. PRINCÍPIOS DO KARATÊ-DÔ
O Karatê-Dô Marcial desenvolveu-se sobre o princípio do “golpe único e definitivo” ou Todome-Waza, onde o praticante após dedicar-se por anos a uma prática intensa e austera seria capaz de causar um dano irreparável a outro ser humano.
A força e a velocidade associadas à técnica refinada e metódica, praticada a exaustão física e mental mediante uma repetição calistênica, proporcionarão ao golpe desferido um alto grau de contundência e letalidade, independentemente da área do corpo a ser atingida. Todavia, para se gerar e transmitir tamanha energia motora, esse corpo necessita estar firmemente enraizado em uma Postura ou Base, para que essa energia possa ser canalizada.
3. LANCEIROS E CAVALARIA
Exemplificando a necessidade de se obter uma postura ou base firme e adequada, faz-se primordial entendimento de como os lanceiros medievais utilizavam a base para enfrentar a cavalaria montada, de acordo com a Enciclopédia Conhecer (1967 vol. IV p, 34): Durante o período medieval para se combater a “Cavalaria”, se fazia necessário haver pelotões de “lanceiros”, no entanto apenas as lanças não seriam suficientes para conter o deslocamento do conjunto Cavalo-Cavaleiro. Para deter tamanha protuberância física desse conjunto, os lanceiros firmavam a contra-ponta da lança no solo criando uma resistência tamanha capaz de transfixar Cavalo e Cavaleiro.
Esse método medieval dos lanceiros está intrinsecamente relacionado à necessidade de firmarmos o calcanhar da perna de trás quando estivermos golpeando, para similarmente criarmos essa resistência permitindo assim que o nosso punho aja como uma lança capaz de conter o corpo que se desloca á frente. Sem essa resistência no solo o golpe não surtirá o efeito desejado, pois não será capaz de transmitir toda a energia gerada pelo corpo e canalizada pelo punho que golpeia.
Compreendendo assim a necessidade de utilizar-se no Karatê-Dô Marcial uma boa base, deveremos então entender como funcionam as várias posturas ou bases existentes e em que condições são aplicáveis.
4.1 BASE FUDO-DACHI
A base Fudo-Dachi ou postura inamovível é indubitavelmente o “elo” com as demais posturas longas. Essa postura possui características peculiares as 03 (três) posturas clássicas: Zenkutsu-Dachi, Kokutsu-Dachi e Kiba-Dachi.
Na base Fudo-Dachi, poderemos observar que a carga do corpo está sobre a perna da frente ao passo que a compressão no solo é exercida pela perna de traz, similar ao que ocorre na base Zenkutsu-Dachi. A postura do joelho de traz juntamente com o ângulo da virilha corresponde perfeitamente a base Kokutsu-Dachi ao passo que o centro de gravidade está eqüidistante aos pés como similarmente acontece com a base Kiba-Dachi.
Data Vênia é imperativo compreender que a postura Fudo-Dachi não seria apenas “mais uma” das várias bases longas do Karatê-Dô, essa postura é indubitavelmente a única postura longa de combate.
As demais bases longas, a citar: Zenkutsu-Dachi, Kokutsu-Dachi, Kiba-Dachi e algumas outras, são bases transitórias, ou seja, se formam quando necessárias, seja para golpear ou para defender, modificando-se imediatamente após a técnica utilizada. Diferentemente das demais bases, a Fudo-Dachi tanto pode modificar-se evoluindo para outra postura quando usando técnica, como pode executar tais técnicas com o seu formato original.
É importante salientar que a postura “Soto-No-Kamaê” em Fudo-Dachi, proporciona a melhor condição de reação pró-ativa durante o combate real, no entanto alguns praticantes optam por bases, que deveriam ser transitórias como bases de Kamaê ou de combate.
Por exemplo, quando um praticante utiliza a base Zenkutsu-Dachi em Kamaê alguns fatores negativos incidirão nessa postura. A reserva da perna de traz existente na Fudo-Dachi inexiste na base Zenkutsu-Dachi, isto ocorre exatamente porque a base Zenkutsu-Dachi é conseqüência do estiramento da base Fudo-Dachi para firmar a técnica em execução. Logo, quando o praticante utiliza a base Zenkutsu-Dachi em Kamaê ele irá perder essa reserva acarretando assim uma menor penetração do golpe devido uma menor velocidade em decorrência da falta de reserva para gerar impulso.
Cada base apresenta uma característica peculiar que a distingue das demais bases. No entanto por desconhecimento alguns praticantes utilizam indistintamente determinadas bases para fins não específicos para aquelas funções a que foram criadas.
A base Zenkutsu-Dachi é a mais forte para empurrar, avançar e romper.
A base Kokutsu-Dachi é a mais forte para puxar, travar e esquivar.
A base Kiba-dachi é a mais forte para resistir, conter e abafar.
Assim, de acordo com Hirokazu Kanazawa (Guia Prático do Karatê. 2006 p, 38):As posturas que não são executadas corretamente impedem a concentração adequada de energia de impulso, o que produz um nível de força inadequado deixando o corpo despreparado para a reação que acompanha um ataque.
Para obtermos uma boa postura de combate, é necessário compreendermos como funcionam essas 03 (três) bases associadas à base Fudo-Dachi.
4.2 BASE ZENKUTSU-DACHI
Na base Zenkutsu-Dachi o centro gravitacional do corpo não é eqüidistante entre os pés, ficando distribuído em 60% na perna da frente e 40% na perna de traz. Característica própria de uma postura avançada que tende a forçar para frente. Outro fator importante é manter o pé de traz no mínimo a 45º graus apontando para frente, para que durante o deslocamento ele possa dobrar sobre os dedos gerando assim impulso, diferentemente quando o pé de traz fica a 90º graus apontando para o lado, que durante o deslocamento ele irá verter sobre a borda interna do pé diminuindo substancialmente esse impulso.
Outro fator importantíssimo é manter o joelho da perna da frente flexionado sobre o seu próprio pé, isto proporciona ao praticando um deslocamento de resposta rápida, pois a carga estando precipitada a frente não haverá interrupção na passagem do centro gravitacional como normalmente ocorre quando equivocadamente mantemos o joelho da perna da frente atrás da linha da sua própria “canela.”
Um dos grandes erros identificados nos praticantes de Karatê Moderno ou de Competição, é no que tange a largura da base Zenkutsu-Dachi, aonde não há a devida observação dessa largura que deve respeitar a mesma dimensão da largura dos ombros. Notando-se durante as disputas uma instabilidade na postura que normalmente culmina em desequilíbrio aonde esse competidor com imensa facilidade tende a ser derrubado por seu oponente.
4.3 BASE KOKUTSU-DACHI
Na base Kokutsu-Dachi o centro gravitacional do corpo não é eqüidistante entre os pés, ficando distribuído em 30% na perna da frente e 70% na perna de traz. Característica própria de uma postura recuada que gerará resistência ao puxar a carga do corpo para traz.
É importante salientar que o joelho da perna de traz deverá ficar dobrado apenas sobre o dedo grande do pé (hálux). Esse detalhe aparentemente irrelevante é o responsável por impedir que haja uma abertura maior da virilha, mantendo a resistência necessária durante a puxada evitando assim o desequilíbrio e a manutenção da postura.
Na base Kokutsu-Dachi o pé da frente deve ficar apoiado totalmente na parte frontal do pé (Koshi) estando o calcanhar tocando levemente o solo, como se existisse entre eles a distância de uma folha de papel. O ato de fixar o calcanhar no solo mantendo o pé na horizontal, isto irá retirar a resistência produzida pelo Koshi do pé, devido não haver mais angulação de declínio capaz de produzir a fixação necessária dessa parte do pé no solo.
4.4 BASE KIBA-DACHI
Na base Kiba-Dachi o centro gravitacional do corpo é eqüidistante entre os pés, ficando perfeitamente distribuído em 50% para cada perna. Característica própria de uma postura de contenção.
Nessa postura dizemos que existe uma batalha contínua, aonde os joelhos são forçados sobre os dedos grandes dos pés (hálux) ao mesmo tempo em que também são forçados para os lados, ao passo que as coxas se comprimem para dentro, gerando assim uma resistência fantástica nesta base.
A base Kiba-Dachi tem uma variante chamada Chiko-Dachi. Essas 02 (duas) posturas se completam e se intercalam involuntariamente ajustando-se e coadunando-se para melhor conter a força que se precipita contra ela. A base Chiko-Dachi é muito utilizada no Sumô, exatamente por ser extremamente forte e resistente quando o ataque vier frontalmente contra o tronco. Igualmente a base Kiba-Dachi tem essa qualidade de contenção, e, se, acaso arremessarmos as pernas para traz bruscamente caso venhamos a sofrer um ataque de Morote-Gare ou mesmo Single-leg, iremos produzir uma contenção tremenda conhecida como Sprawl (espalhar ou abafar) que é outra variação da base Kiba-Dachi. Esse movimento conhecido como Sprawl, aonde a base Kiba-Dachi alcança a sua amplitude máxima configura-se na melhor defesa contra técnicas de Wrestling que objetivam segurar as pernas para erguer e derrubar o corpo.
Na base Kiba-Dachi, quanto mais baixo estiver o centro gravitacional maior será o poder de resistência e de contenção desta postura. No entanto, se o nosso tronco estiver com a sua inclinação voltada para traz, por menor que seja, essa postura estará totalmente comprometida.
5. MOVIMENTO EM ZIG-ZAG
As posturas Fudo-Dachi, Zenkutsu-Dachi, Hangetsu-Dachi e Sanchin-Dachi têm a sua largura correspondente a largura dos ombros, em conseqüência disto o seu deslocamento de pernas deverá acontecer em forma de “Zig-Zag”. Este movimento de deslocamento em Zig-Zag erroneamente é ensinado a ser feito com os pés, ao passo que deveria ser executado com os joelhos. Quando o joelho passa próximo ao outro joelho obrigatoriamente a perna e o pé seguirão esse percurso, mantendo o conjunto “joelho, perna e pé” sempre perfilado na vertical o que proporciona uma firmeza desse conjunto quando o pé tocar o solo, e em conseqüência disto uma resposta pronta e imediata para novo impulso por não haver oscilação do joelho, devido ele estar verticalmente alinhado com a perna. Diferentemente acontece quando esse deslocamento em Zig-Zag é feito apenas com os pés, pois o joelho estará aberto quando o pé tocar o solo gerando uma dissipação de impulso para o lado antes de ajustar-se para frente e continuar o deslocamento.
Normalmente os praticantes de Karatê-Dô desconhecem o porquê desse deslocamento em base ocorrer em Zig-Zag, e executam esse movimento apenas como norma obrigatória existente no Karatê-Dô, mas sem sentido prático ou o objetivo específico.
Para compreendermos o motivo desse deslocamento em base ocorrer em forma de Zig-Zag e como esse movimento pode proporcionar ao nosso deslocamento uma eficiência de velocidade máxima, deveremos nos reportar ao atletismo e a prova dos 100 metros rasos.
Conforme Juliano Dal Pupo (Revista Digital. 2008 N°. 118): A fase de aceleração compreende, segundo Seagrave (1996), desde a saída, com as primeiras passadas em ZIG-ZAG, até a denominada aceleração pura, nas 08 as 10 passadas seguintes. A força explosiva tem grande importância para aumentar a velocidade, mas a partir disto a força explosiva perde antagonismo em favor da força elástica.
Observa-se que durante a partida os atletas desta modalidade esportiva precipitam o tronco para frente obrigando as pernas a desenvolver um deslocamento extremamente veloz. Para obter uma resposta positiva as pernas produzem um movimento em Zig-Zag similar ao que ocorre no Karatê-Dô. No atletismo esse movimento em Zig-Zag é mantido apenas nas primeiras passadas até que o corpo se estabilize. Isso se faz necessário devido ao corpo estar em inércia, necessitando de uma explosão muscular e de uma amplitude de movimentos para gerar impulso e estabilidade necessária para desenvolver uma grande velocidade.
Isto significa que igualmente no Karatê-Dô o deslocamento em base deve ocorrer de forma explosiva, similar ao que ocorre na prova dos 100 metros rasos do atletismo. Infelizmente nota-se que os praticantes de Karatê-Dô executam este deslocamento de forma lenta, desde as primeiras práticas de iniciação no Karatê, mantendo essa atitude errônea até os mais altos graus da Faixa Preta.
6. KOSA-DACHI – CIÊNCIA EMPÍRICA
As bases foram aprimoradas com os anos de prática empírica sofrendo correções metódicas cientificamente elaboradas. A base Kosa-Dachi ou Kake-Dachi seria o melhor exemplo desse método cientifico no Karatê-Dô.
Como já citado anteriormente o deslocamento em base ocorre através de um grande impulso que gera uma velocidade tremenda. Essa velocidade quando retilínea muitas vezes necessita ser contida para utilizarmos o corpo em outro movimento secundário. A base Kosa-Dachi ou Kake-Dachi quando utilizada frontalmente durante um deslocamento retilíneo, seria na verdade o momento final dessa contenção, aonde a interrupção abrupta da velocidade do corpo em movimento impulsiona-o a frente. Para haver um controle do corpo após o impulso esta base nos proporciona as condições necessárias, tanto para girar e recuar como para girar e em seguida avançar.
Exemplificando o acima exposto, deveremos proceder fazendo uma corrida curta em alta velocidade de encontro a uma parede, e ao tocarmos nessa parede com ambas as mãos deveremos girar o corpo abruptamente tentando aproveitar o máximo de energia elástica produzida por essa contenção para adquirirmos impulso e velocidade para reiniciar a corrida de volta. Ao fazermos isto notaremos que involuntariamente a perna de traz cruza por trás da perna de contenção permitindo que após o giro, ambas as pernas estejam em condições de impulso.
Este tipo de contenção abrupta seguido de um giro brusco pode ser observado em alguns Kata’s, tais como Heian-Yodan, Bassai-Daí, Gojushiho-Sho e outros. Em outras palavras, determinadas bases como é o caso da Kosa-Dachi ou Kake-Dachi muitas vezes incompreendidas por uma grande parcela dos praticantes de Karatê-Dô revela-se ser uma das maiores provas cientificas que envolve esta nobre Arte Marcial.
7. VIRILHA, ANCA E QUADRIL
Outro fator importantíssimo para obtermos uma base forte, resistente e explosiva, consiste em sabermos utilizar adequadamente o conjunto virilha, anca e quadril nas varias bases do Karatê-Dô.
Em consonância, afirma MASATOSHI NAKAYAMA (KARATÊ DINÂMICO. 1966 p, 62): Arremessar os quadris a frente é diferente de meramente dar um passo a frente. Arremessar os quadris a frente significa movimentar-se com a força propulsora da perna de apoio em alta velocidade.
Basicamente este conjunto virilha, anca e quadril modificam-se a sua utilização em 02 (dois) momentos distintos;
1- Quando estamos soltos.
2- Quando estamos sendo agarrados.
Quando estamos soltos, ou seja, atacando, defendendo, empurrando, puxando e contendo, o conjunto virilha, anca e quadril devem estar voltados para dentro evitando que as nádegas fiquem empinadas.
Isto permite que a força gerada pela resistência no solo seja canalizada e distribuída de forma isométrica, impedindo que os músculos e articulações fiquem desconexos. Assim será mantida a conexão com a sua fonte geradora de força a permitir que o conjunto virilha, anca e quadril tenham um domínio pleno para liberar essa energia.
Quando estamos agarrados, presos e segurados, o conjunto virilha, anca e quadril devem ficar salientados para traz, impedindo que haja por quem o segura e agarra um domínio sobre a sua cintura.
Manter a sua anca distante do corpo do oponente é fundamental para impedir que o seu oponente o erga e o arremesse ao solo. Para erguer a anca devemos antes afastar a base para traz afastando-a do corpo do oponente permitindo assim a liberação do apresamento.
Existem basicamente 16 (dezesseis) bases no Karatê-Dô Shotokan-Ryu: Heisoku-Dachi, Musubi-Dachi, Heiko-Dachi, Hachinoji-Dachi, Uchi-Hachinoji-Dachi, Renoji-Dachi, Teiji-Dachi, Kosa-Dachi (Kake-Dachi), Sachin-Dachi, Neko-Ashi-Dachi, Hangetsu-Dachi, Shiko-Dachi, Kiba-Dachi, Zenkutsu-Dachi, Kokutsu-Dachi e Fudo-Dachi (Sochin-Dachi).
Existem ainda outras variantes como é o caso da postura Ashi-Dachi que se apresenta em forma de equilíbrio ao apoiarmo-nos sobre apenas umas das pernas. Sempre ao chutarmos e ao utilizarmos as pernas como forma de defesa, utilizamos a base Ashi-Dachi.
Uma postura adequada permitirá que o conjunto virilha, anca e quadril produzam uma técnica de cintura vigorosa capaz de transmitir essa energia para a parte superior do corpo. A energia gerada por esse movimento de cintura será fundamental para os socos e defesas, sem isso essas técnicas perderão a sua essência ficando restritas a meros movimentos de força muscular, aonde o indivíduo de maior força física ou de maior compleição física se sobressairá sobre os demais praticantes. O movimento adequado de cintura permitirá que o golpe de soco ou chute tenha a mesma contundência independentemente da compleição física de quem as executa.
8. PRÁTICA MARCIAL E LÚDICA
Notadamente um praticante de Karatê que não pratica o Jyiu-Kumite regularmente, comumente negligencia as peculiaridades inerentes a cada base ou postura, desconhecendo assim os benefícios de resistência, força e rapidez que uma base bem firmada pode proporcionar. Isto se deve ao fato de não haver exigência quando a prática do Karatê não está calcada na necessidade de parâmetros de risco. O indivíduo quando pratica o Karatê apenas como forma “lúdica” não vislumbra esses riscos inerentes a prática voltada ao combate de contato, criando assim critérios para a sua postura ou base de acordo com as necessidades do emprego a que ele deseja destiná-la.
Quando o referencial a ser alcançado tratar-se de bases adequadas ao combate real, nenhuma peculiaridade dessas posturas poderá ser negligenciada, pois o combate real exige muito mais que apresentação pessoal, compleição física ou força. Trata-se principalmente de fundamentação técnica de funcionabilidade, ou seja, não adianta estar assentado sobre uma base elegante, está postura tem que ser capaz de funcionar como um firmamento gerador de impulso para ser considerada como útil.
Não podemos ignorar a diferença existente entre a prática lúdica e a pratica Marcial do Karatê, pois existe uma disparidade gritante entre elas. Competições de luta de contato como MMA, K1 e os treinamentos de JYIU-KUMITE são referências do que mais se aproxima do combate real. Nessas modalidades de lutas, claramente nota-se que os contendores evitam ao máximo saltitar ou movimentar-se pulando evitando assim serem atropelados pelo ataque do oponente, ao mesmo tempo produzem uma “resistência” ao avanço do oponente durante esse enraizamento de base.
A instabilidade ao saltitar ou movimentar-se pulando é abrangentemente praticado no Karatê lúdico, ao passo que praticamente seria uma exceção da regra isto ocorrer no Karatê-Dô Marcial.
A compreensão adequada da base ou postura correta permitirá ao praticante desenvolver uma condição impar de resistência, explosão, força, velocidade e técnica científica. Para isso se faz necessário uma prática austera e metódica, e anos a fio de prática intensa.
CONCLUSÃO
As Bases ou Posturas do Karatê-Dô mesmo tendo sido elaboradas nos primórdios desta prática Marcial, comprovadamente denotam estrutura científica nas suas disposições e formas variadas, sejam para contenção, repuxe ou força. Ressaltando assim um alto grau de conhecimento técnico daqueles que as elaboraram.
Entende-se assim que para um praticante de Karatê-Dô Marcial desenvolver uma técnica poderosa, faz-se imperativo este estar assentado sobre uma postura firme e adequada que proporcione uma condição de pronta resposta às situações diversas e adversas que normalmente ocorrem durante uma luta.
Máxima Vênia, independentemente da prática escolhida, seja Marcial ou Lúdica, conclui-se que as Posturas ou Bases não podem ser negligenciadas em detrimento de a opção escolhida tangenciar a recreação ou jogos. Qualquer atividade desportiva é calcada sobre uma estrutura sólida para produzir resultados satisfatórios, logo, não seria plausível compactuarmos com a insolidez que vislumbra-se na prática do Karatê Lúdico.
João Pessoa – PB
Janeiro de 2011